quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Episódio Único

(Humor d’irmãs)

Duas irmãs tinham um humor singular.
O humor destas irmãs era tão invulgar que não havia mais nenhum como o delas. Tinham, por isso, um humor raro.
Ou melhor, era um humor mais raro do que as coisas raras. Porque as coisas raras são invulgares mas não são únicas, são apenas uma raridade, o que quer dizer que existem em muito pouco número.
Ora o humor destas irmãs era mais do que raro. Era único. O que o tornava verdadeiramente universal, uma vez que o único contém o raro mas o contrário não se verifica.
E as irmãs humoravam, humoravam, mas ninguém entendia o seu humor. Porque o humor destas irmãs era diferente de todos os outros.
Era mais do que raro, era um humor único.
E exactamente por ser único, ninguém se apercebia da sua singularidade. E então as irmãs humoravam, humoravam. E ninguém compreendia ou sequer se apercebia. Porque o humor único é a excepção das excepções e em geral são precisos mais do que um humor iguais para se convencionar, e por isso entender. Por exemplo, os humores raros são convencionados raros porque se entende a sua raridade. Já o humor único, dado o seu carácter excepcional, não se pode categorizar e por isso não se entende, exceptuando as duas únicas pessoas que o têm. E para haver um humor único são necessárias duas e apenas duas pessoas. Se existirem duas e apenas duas pessoas, elas poderão então humorar um humor único. E estas duas irmãs eram precisamente essas duas pessoas.
E então humoravam, humoravam. Humoravam-se uma à outra porque mais ninguém entendia o seu amor.
E as irmãs, vendo que ninguém se apercebia, desatavam a rir-se.

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